quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Game de Sonho

Eram idos já alguns meses do ano de 2001, quando eu então na casa de um amigo, tive contato com a obra-prima razão deste post.
Antes deixe-me situar-lhes na contexto:
Dentro da linha do tempo do estudo estético, várias artes foram sendo descobertas e/ou reconhecidas. Primeiro apenas literatura, depois (a partir de Hegel), as famigeradas seis artes (literatura, coreografia, dramatização, pintura, arquitetura e música)  foram aclamadas e inseridas no hall de acontecimentos passíveis de tornarem-se arte. Logo depois (Benjamim), o cinema é classificado como a sétima arte. O que eu falo aqui é da oitava arte (conceito criado por mim, modéstia a parte), que são os Jogos. Do Pacman até Medal of Honor, os videogames (jogos eletrônicos) vêm adotando e criando linguagens e técnicas que conseguem evocar a mais profusa gama de sentimentos e sensações nos jogadores, tal qual as obras de arte convencionais, além de que, está para o cinema como este está para a fotografia (é uma ramificação com mais interatividade e imersão do que a 'arte-mãe'), ou seja, em determinado momento o espectador deixa de querer apenas ver a história; hoje ele quer tomar parte ativa no enredo e submergir na ficção com papel determinante no desfecho da história. Arte é, imprescindivelmente, expressão de sentimentos com beleza na matéria, e, como não temos o poder de penetrar na mente do artista e visualizar sua intenção ao confeccionar a arte, ela vai ser conceituada, cientificamente, como se conseguir esse intento primordial justificado pela psicologia.
Agora que vocês estão devidamente informados, vamos voltar a 2001.
Pois bem, estávamos jogando videogame no computador (futebol) e ele declarou que tinha uma novidade pra mostrar, um jogo fantástico. Pensei que viesse um FPS (tiro em primeira pessoa) destruidor de alienígenas (moda na época)... Grata surpresa!

Capa do NFS Porsche 2000 para PS1

Eu acabava de vislumbrar o Need For Speed 2000 Porsche Unleashed. Ele tinha tudo, alias, tem tudo que necessita para ser o sucesso que é. É considerado pela maioria dos jogadores de videogame (em recente pesquisa de um site especializado) como o melhor game de corrida de todos os tempos, mesmo concorrendo atualmente com títulos hollywoodianos em termos de recursos especiais. O gráfico era o mais perfeito permitido na época (CAD,CAM e CAE) e ainda hoje não faz feio. O enredo é opcional e duplo. A imersão ainda não foi igualada por nenhum game do estilo. A jogabilidade é fantástica, e o fato de ter dano próximo do real dinamicamente, aumenta ainda mais o zelo do jogador por "seus" automóveis. Creia-me, eu chinguei várias vezes meu computador quando este manobrava seus lamentáveis pilotos para baterem em mim.
O Eletronic Arts (nada mais justo de classificar a arte como de seu autor) brinda o aficionado por automóveis (pegando pouco pesado nos estereótipos), apresentando a história da grande fábrica de esportivos e carros de corrida "Porsche" de Stuttgart, mostrando a grande "sacada" da marca (se é que tem alguma) que é custo menor e maior qualidade do que a concorrência. Dentre a galera que curte automóveis refinados, reza a "essência do saber comum" em dizer que um Porsche é produto de zelo e suor, e que uma Ferrari (principal concorrente) é fruto do novo rico sem "classe" (o cara que não entende de carro) . Este game colocou um alicerce sob esta afirmação.
A história da montadora e do seu idealizador, Ferdinand Porsche, é contada de forma familiar e lúdica, aproximando, em ambos os enredos, os jogadores da marca. Você joga e pode pilotar dos primeiros modelos 356 até os poderosos 911 de 2000 como o turbo e o GT1, mais de 50 carros ao todo, entre modelos e versões. Dispunha até de uma oficina mecânica virtual onde os jogadores podiam personalizar seus carros de acordo com cada corrida. Calibragens de altura, rigidez da suspensão, tipo de pneu, relação de marcha entre outros, aumentavam a relação com aqueles que queriam extrair o máximo de seus modelos (eu mesmo consumia horas testando cada variação).
Agora vamos falar do que é negócio: Advergame. Na época a internet não era tão difundida quanto hoje, portanto, não sabemos rigorosamente se este game foi orientado pela Porsche. A perfeição e principalmente a mensagem dele fazem quase certeza que ele é um advergame puro, porém, a importância da Porsche no cenário automobilístico mundial é crucial, e por si só, poderia mostrar a Eletronic Arts que o jogo teria potencial. O fato é que ele gerou ganhos de imagem enormes para a Porsche, já lendária no ramo. Várias crianças, adolescentes e adultos estabeleceram ou reconectaram um relacionamento afetivo com a marca. Se hoje um Porsche está consolidado como um sonho de consumo entre todas as classes (é o carro mais desejado em pesquisa do bestcars web site), deve-se em parte a esse game (estou falando de pessoas de uma faixa etária abrangente) que antes dele não pensavam um carro como uma marca, mas sim como um produto ordinário.
Dentro do exposto, constatamos que o jogo é primeiro, um videogame de excelência (aspectos como jogabilidade, gráficos, etc. atendidos com perfeição técnica), é arte (consegue expressar sentimentos e sensações com beleza no palpável) e é propaganda (advergame persuade, relaciona o jogador com a marca, evoca sentimentos positivamente). Ou seja, não é pouco, consegue transitar com magnificência entre três gêneros de consumo com exigências tão distintas. Agora me deem licença, que vou jogar um pouco. Fiquem com um vídeo de imagens do jogo. Até o próximo post.



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