sábado, 9 de outubro de 2010

Resenha Crítica - Comunicação e Modernidade

Trata-se de uma análise da obra de Dominique Wolton. Um trabalho acadêmico para a disciplina Teoria da Comunicação.




WOLTON, Dominique. Comunicação e modernidade In:______ WOLTON, Dominique. Pensar a comunicação. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2004. p. 24-40.






CAMPINA GRANDE – PB.
2010.


Introdução


No presente texto, “Comunicação e modernidade” o autor Dominique Wolton (Doutor em sociologia, diretor de pesquisa do Centro Nacional da Pesquisa Científica (CNRS), onde dirige, desde 2000, o laboratório de ‘Informação, Comunicação e Implicações Científicas'. É diretor da revista científica Hermès, e um dos grandes especialistas europeus em política e comunicação. Escreve regularmente, entre outros, para os jornais Le Monde e Libération.) aborda com perspicácia o uso das técnicas e suas evoluções no grande êxito da comunicação dos dias atuais. O foco central da obra é relacionar a comunicação midiática com o estilo de sociedade que a produz, percebendo que o molde do nosso modelo de comunicação atual foi construído a partir do século XVIII com as grandes revoluções européias (Industrial e Francesa) e relacionando a comunicação com essa modernidade assim produzida. Essa modernidade é conceituada por ele como uma organização social surgida a partir do referido período, consolidada a partir das revoluções mencionadas e possibilitada pela consolidação do capitalismo. Apresenta paradigmas e valores iluministas, ou seja, da individualização da importância dos indivíduos na sociedade, fundamentação tecnológica e científica em busca das verdades. A partir desse quadro, a comunicação segundo o autor, tem seu êxito através das novas técnicas (do telégrafo à internet, pelo período mencionado pelo mesmo, podemos racionalizar), que libertam o homem do espaço tempo, podendo-se ampliar a comunicação e a própria necessidade da mesma. É impossível dissociar esse êxito referido da técnica e da modernidade, pois os valores presentes no inicio ainda imperam e caracterizam essa forma contemporânea: Liberdade de expressão, individualização e técnicas que simplifiquem o modo de comunicar-se. Nesse campo, a grande abertura das fronteiras se dá no campo mental e cultural, tendo a comunicação como instrumento principal dessa abertura, auxiliada pelas técnicas, assumindo assim seu grande papel no mundo contemporâneo: A valorização do indivíduo e suas relações, baseada nos valores de liberdade e igualdade. Ela tem duas funções ideológicas: Dissemina a compreensão mútua e da democracia, satisfazendo os interesses de uma sociedade democrática e as necessidades do sistema econômico global que só sobrevive graças a sistemas de comunicação rápidos e eficazes, onde podemos exemplificar na nossa área com o consumismo gerado pelos anúncios publicitários, como também na especulação de ações na bolsa de valores, onde qualquer individuo pode comprar e vender ações de empresas estando alocado em algum lugar do mundo com internet. O autor levanta três hipóteses para se entender esse fenômeno de comunicação versus sociedade: Laço entre comunicação e modernização, o papel da comunicação na sociedade contemporânea e o papel da recepção dessa comunicação, e ai é onde está a chave do raciocínio do autor. Na primeira hipótese o referido êxito e explicado a partir de dois pressupostos: A comunicação como necessidade fundamental da humanidade (valores iluministas basicamente associados com as técnicas na propagação daqueles ideais e utopias) e comunicação como característica essencial da modernidade (gestão funcional de uma sociedade complexa que demanda grandes volumes de informação em pequeno espaço de tempo). Na segunda hipótese apresenta como grande questão da sociedade individualista de massas a crise da relação entre o individuo e a coletividade, gerada por dois movimentos contraditórios, já mencionados anteriormente que são liberdade individual e igualdade entre os indivíduos. Assim, fundamentada nos ideais liberais e socialistas valoriza o individuo e a coletividade massificada ao mesmo tempo, formando um triangulo organizacional entre individuo, coletividade e comunicação, com as relações sendo organizadas pela comunicação. A partir daí seguem dois processos distintos: A individualização (pela fragmentação audiovisual e as inter-relações da internet) e a massificação (grandes redes de comunicação, televisão e rádio) culminando no raciocínio que não existe teoria da comunicação sem teoria da sociedade. Na terceira hipótese o autor valoriza a inteligência critica do publico receptor, afirmando que pela democratização da comunicação, esse público tem a capacidade e os meios de escolher devidamente os objetos midiáticos (carregados com ideologia e hábitos de consumo) de maneira que mais lhe aprouver. Nesse ponto ele rompe com a escola de Frankfurt que afirma que no ato da manipulação também ocorre a alienação, argumento que refuta salientando que não há comunicação sem a capacidade critica do publico, e que o processo que se dá é a interação do publico com as novas técnicas e que ao passo que as técnicas evoluem os sujeitos também evoluem no sentido de ficarem aptos a lidar com elas. Ainda nessa hipótese argumenta que a questão universal da comunicação não se refere apenas a globalização e sim a um processo muito mais complexo, pois a mundialização das técnicas não significam a mundialização dos conteúdos (por exemplo a influencia de determinada agencia de noticias e a ação da internet que apesar de possibilitar interação de indivíduos de diversas partes do planeta não unifica essa diferença e sim apenas as põe em contato) por força, segundo seu argumento, de que a ideologia e a cultura são mais fortes do que a técnica nesse processo. Conclui o texto afirmando que a referida sociedade da informação não terá uma forma linear e unificada de organizar sua comunicação, e em cada contexto social-nacional será criada ou adequada a técnica mais apropriada àquele nicho social.



AVALIAÇÃO CRÍTICA DA OBRA


A referida obra estudada e analisada tem o mérito literário de estabelecer relações contemporâneas entre a sociedade e o sistema global de comunicação, com um raciocínio perspicaz, analisando o tema rompendo paradigmas convencionados pela aclamada escola humanística de Frankfurt, apesar de seguir uma corrente evolutiva do pensamento alemão até determinado ponto do texto. O estilo de abordagem a meu ver foi extremamente redundante (os conceitos repetem-se em demasia), porém com uma clara tendência ao realismo, apesar de não contextualizar suas opiniões com exemplos palpáveis. A obra tem méritos ao abordar o tema escolhido pelo autor.



CONSIDERAÇÕES FINAIS


O autor auto-aclama sua obra (o referido texto) como fruto de uma abordagem científica - teórica em uma posição “empírico – critica” (colocando em primeiro lugar a importância teórica da comunicação e sua adequação ao modelo da democracia de massas, criticando ao mesmo tempo a constante defasagem entre os atos e as referencias desses atos), afirma que essa posição de investigação é minoria e critica em tom de denúncia que os demais trabalhos existentes sobre o campo da comunicação são em grande maioria mais críticos ou em menos incidência fazem apologia a atual ideologia de comunicação, dessa forma não tenho como concluir diferentemente que o referido autor demonstra falta de ética profissional para com seus pares cientistas e uma megalomania acompanhada de auto – indulgência que o leva a crer que apenas seu trabalho está correto e todas as outras correntes de pensamento estão erradas (no presente trabalho). Admite que os grupos dominantes (denomina as “elites” e admite abusar no termo) se fazem dominadores por propagar suas ideologia e cultura nos meios culturais (porque não usar meios de comunicação ou especificar por completo os meios culturais?) e refuta a idéia de manipulação por alienação. Ou seja, no seguimento natural do raciocínio do autor, o individuo independentemente de seu grau de escolarização e de seu nível educacional, está apto a deliberar e fazer um julgamento de valor satisfatório sobre qual comunicação ele deve consumir ou ser adepto. Nesse ponto é onde acontece a falha geral de seu raciocínio do ponto de vista prático, porém, vamos descrever mais adiante essa falha crítica. Agora volto ao começo de sua argumentação, onde ele classifica sua investigação como sendo “empírico – crítica”: Dos significado das palavras “empírico” sendo “Baseado na experiência ou dela derivado” e “crítica” sendo “Juízo fundamentado acerca de obra científica, literária ou artística” (dicionário Michaelis), o autor afirma que sua obra é fundamentada na experiência e no juízo fundamentado acerca das relações sociedade versus individuo versus comunicação, mas convenientemente não apresenta nenhum dado que corrobore nem um nem outro ponto de vista (dados estatísticos, sociológicos, psicológicos ou mesmo históricos) e sim apenas argumentações, acompanhadas de seu processo de raciocínio. A obra que se propões a ser contextualizada e contemporânea carece até mesmo de exemplos práticos (os mencionados na síntese foram propostos pela minha interpretação do texto) e de aplicabilidade, em suma, um raciocínio embasado por “achismos” e passados adiante meramente pela suposta autoridade que o título do autor (doutor em sociologia) confere ao mesmo. Finalmente em análise a falha de raciocínio referida anteriormente quanto à questão de manipulação sem alienação. O autor discorre sobre a capacidade crítica do público, dando a entender que a mesma é satisfatória, porém, obstante, seguem os simples significados das palavras usadas pelo próprio autor, são elas: Manipular “Fig. Condicionar, influenciar, geralmente em proveito próprio. Adulterar, falsificar.” (dicionário priberam da língua portuguesa) e Alienação “Estado da pessoa que, tendo sido educada em condições sociais determinadas, se submete cegamente aos valores e instituições dadas, perdendo assim a consciência de seus verdadeiros problemas.” (dicionário online de português), ele considera o fato que a manipulação se dá apenas pela aceitação e convencimento do espectador ou receptor da mensagem de comunicação, sem levar em conta que no ato de manipulação, em casos que se usam mentiras (não são raros e posso mostrar dezenas em tempo real) e ideologias agregadas (caso não se tenha um adestramento mínimo intelectual, o espectador é propenso a se tornar adepto de um pensamento sem ao menos conhecê-lo) o individuo receptor está alienado da realidade. O ato, portanto, de convencimento pela racionalização onde o receptor está ciente de todos os fatos relativos à ação (de convencimento) não é manipulação e sim persuasão. Os atos de manipulação estão intrinsecamente ligados a alienação, onde o espectador é ludibriado por mentiras ou omissão de informações referentes aquele conteúdo especifico ou geral. Levantadas todas essas questões, preocupa-me o grau de alienação que esse conteúdo pode causar em pesquisadores, docentes e discentes que não racionalizam a obra sob diversas perspectivas. Por essa falha de raciocínio gritante, a obra nem deveria ser abordada para estudo cientifico e a única aplicação possível é no aprendizado de como não fazer uma análise.

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