quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Bostética e Idiótica

"O nascimento da Vênus" Botticelli, 1485: Segundo a bostética, já saiu de moda, e segundo a Idiótica pode significar um estupro, aborto, vergonha...

Boa noite leitores.

Logo de cara quero pedir desculpas a todos que acompanham o blog. Foram até hoje quase 3 milhões de acessos, e, infelizmente, tenho estado sem tempo para postar, nem mesmo trabalhos acadêmicos, os quais eu posto geralmente os que recebi a nota máxima. O problema é que neste último final de período não obtive muitas notas máximas, e, as que obtive, foram em cadeiras tecnocráticas, isto porque começou o grande período de conflitos científicos que eu previa, pois, a humanística em geral e particularmente a comunicação, no Brasil, são estudadas de forma equivocada, e, posso garantir que não é falta de capacidade em tirar as notas máximas (nem soberba, pois é conhecimento elementar) mas uma discordância radical dos autores adotados. Posso citar logo, dois exemplos de cara, em duas das bases mais importantes para os profissionais de criação publicitária: Estética e Semiótica. Na primeira, os "estudos" brasileiros (nada mais do que comentários acerca principalmente da estética anárquica de Henri-Cartier Bresson, em sua grande maioria) estão completamente focados no momento da criação e não na qualidade, uma vez que a estética anárquica se auto-aclama incapaz de julgar qualidade ou níveis estéticos (vide Theodor Adorno), insinuando que uma criação esteticamente construída é baseada no seu tempo de criação e contexto cultural, ou seja, a estética seria sazonal como uma moda! Isto por si só, já fere o conceito estético abordado por Platão (reflexo do mundo inteligível na matéria) e o do maior cientista da área (Theodor Adorno, que aborda estética em níveis como imersão [catarse], profusão, variação, entre outros) numa deformação conceitual tamanha que fora o conceito principal (sazonalidade modística) não existem outros conceitos de partida neste ponto de vista. Diretores de arte, designers e artistas são formados, ano após ano, pensando sempre em acompanhar a tendência estética do momento (que agora é clean, e geralmente, entrega artes e layouts pobres), o que me leva a pensar se algum destes novos "estudiosos", já ouviu falar em Johan Sebastian Bach, Albrecht Dürer, William Sheakspeare, Constantin Stanislavski, Sergei Diaghlev e Ingmar Bergman? Eles (Legítimos representantes das sete artes) entre outras centenas de grandes mestres, construíram uma obra além do seu tempo, de conteúdo profuso, original, e imortal!! Nunca foram ou serão apenas uma moda, mas, cada um a seu modo, escreveram com beleza (estética) seus nomes e obras na eternidade, enfim, são referências obrigatórias à quem quiser estudar música, artes plásticas, literatura, artes cênicas, dança e cinema, respectivamente.
Agora, vamos à polêmica semiótica. No Brasil, estudamos basicamente as semióticas de Peirce e Saussurre, que, apesar de adotarem nomenclaturas diferentes nos elementos, partem do modelo estruturalista, ou seja, para entender determinado assunto, analise sua estrutura que funcionaria de acordo com a mesma (embora muitas vezes sem ligação lógica), o que traz um problema, logo de início em se compreender o efeito do signo (elemento de comunicação por excelência) sem uma análise psicológica-gestaltiana do mesmo (nesta linha Peirce-Saussurre, Lakan faz relações tênues com psicanálise) numa disputa científica interessante, pois se estudamos também gestalt (atribuindo os devidos méritos a Wündt e Wertheimer) e a mesma é utilizada no tratamento de patologias, análises psicológicas e análises científicas sobre arte, como sobrepor esse conhecimento dizendo que um determinado signo tem determinado efeito por ser ícone, símbolo ou índice, ou através de seus absurdos qualitativos ou instâncias de "digestão" deste signo (primeiridade, segundidade e terceiridade) distribuídos sempre em tríades? Qual a relação desta estranha teoria com a realidade? Se a Psicologia é a ciência que detém a maior propriedade de conhecimento sobre a mente humana, por que então não utilizar a base de conhecimento que forma num raciocínio lógico e preliminar a abordagem da Gestalt? Pois bem, a referida corrente psicológica, tem base principal em duas obras: A teoria das cores de Göethe e Sternzeichen (Signo) de Franck, base esta citada no livro Gestalt de Wündt. Interessantemente, nenhuma obra de Franck (obras que datam do Século XVIII, também considerado no mundo, o pai da Antropologia) está traduzida para o Português. O livro de Franck revela uma teoria bem fundamentada acerca dos signos (quaisquer elementos de comunicação perceptíveis por nossos cinco sentidos básicos) e empirismo sobre seus efeitos e aplicações justamente na efervecência cultural e científica que presenciava e fazia parte (O Iluminismo), com um olhar bastante semelhante aos dos psicólogos que posteriormente, utilizaram e creditaram seus conhecimentos. Um simples exemplo pode ser apresentado sobre a construção de uma espada (arma) em diferentes momentos da história, ainda num mundo sem conexão: Apresenta o mesmo formato, para uma mesma utilidade, tal como, a pedra lascada, usada tanto como arma quanto utensílio e presente em diversos lugares e tempos, mostram que, a nossa capacidade cúbica cerebral nos faz achar sempre a melhor forma ou idéia necessária (segundo Platão, uma conexão com o mundo inteligível) num pensamento congruente com o nascimento da Filosofia (mãe de todas as ciências e buscadora do conhecimento resultante do rompimento com o divino-mito, além de radical) e conseqüentemente com todo o conhecimento prático que dispomos hoje, o que leva a questão: Por que não os adotamos? Acredito que seja por dois motivos básicos que fazem parte da brasilidade: Preconceito e Mediocridade. Preconceito (que é basicamente opinião sem conhecimento), por grande parte da nossa população ser educada, muito sutilmente, a acreditar que os Alemães são nazistas por nascimento, e portanto, são seres inteligentes e maus, prontos à praticar atrocidades a qualquer pessoa que não seja "ariano" (nomenclatura adotada erroneamente por Hitler para denominar alemães de origem, que não são arianos e sim Saxões) numa clara influência pós-guerra. Mediocridade, no fato de ser muito mais fácil os "intelectuais" conseguirem bolsas de pós-graduação na França, Estados Unidos e Espanha (inclusive muitos dos "exilados políticos" da ditadura militar) e serem rejeitados nas instituições germânicas e pós-germânicas (não só na Alemanha, como a Escola de Frankfurt, mas também na Suiça [CERN] e Inglaterra [Cambridge e Birmingham]), batendo de frente justamente com dois dos princípios mais básicos da ética filosófica (igualdade e virtude moral) aclamada em todo o ocidente.
Portanto, dado este panorama, não podemos reclamar muito da produção "artística" nacional se assemelhar a excremento (bostética) e ser aclamada como bela por idiotas (idiótica). Tenho o dito e a mente muito tranquila para receber as reverberações deste texto mais didático que explosivo, na minha opinião (que só pode ser dada se embasada por conhecimento). Até a próxima, brevemente, teremos ótimas novidades...

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